Só o consegui ler, sinceramente, à terceira ou quarta tentativa. Começava a ler e depois não sentia o entusiasmo do costume para continuar. No entanto, era de facto um dever, pois o livro foi um presente e não ia custar assim tanto, dado que quase não passa das 100 páginas.
A minha intuição não falhou. Não consta da minha lista de favoritos, embora tenha algumas abordagens interessantes.
Eis uma delas:
"Em dado momento, o comunicador (...) preferiu referir-se a esses passeios [trata-se de uma alusão à falta de condições dos passeios de Madrid para deficientes físicos] com um «vá lá, terceiro-mundistas». É assim que, infelizmente, uma forma de designar os países em vias de desenvolvimento, ou de desenvolvimentos sustidos pela gula dos países mais ricos, se transformou num lugar-comum para referir-se o que é feio, sujo, esfarrapado, grotesco ou ofensivo para os recém-incorporados à riqueza.
(...)
Conheço muitos países, «vá lá, terceiro-mundistas», e posso garantir que as suas culturas sociais não permitem abandonar um avô à sua sorte, num miserável campo de concentração ajardinado, atado à cama para não estorvar a hora do telelixo. Pelo contrário, costumam morrer nas suas casas pobres, mas rodeados do amor dos parentes, pois os «vá lá, terceiro-mundistas» valorizam a útil experiência dos anciãos."
[Luis Sepúlveda, O poder dos sonhos, 2006]
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